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Qual é a relação entre gênero, raça e transporte público?
Segundo a pesquisa “Segurança das Mulheres no Transporte”, realizada em 2019 pelos institutos Patrícia Galvão e Locomotiva, 97% das brasileiras adultas já foram vítimas de assédio em meios de transporte.
As mulheres, em sua maioria negras, são a maior parte das usuárias de transporte público em BH e RMBH e estão sujeitas a violências de gênero nesses percursos. Ainda são poucas as experiências de políticas de combate ao assédio no Brasil e a questão da subnotificação dos casos de assédio no transporte coletivo é um empecilho.
Em BH e RMBH, são quase inexistentes as informações sobre assédio no transporte público e as poucas políticas públicas voltadas para o combate a essas violências ainda são políticas incipientes. Como por exemplo o “Botão do Pânico”, mecanismo de denúncia instalado nos ônibus da capital “que pode ser acionado” por motoristas quando recebem relatos de situações de assédio e importunação sexual dentro do transporte coletivo. Medida essa que, entre outros equívocos, expõe a vítima. Ou o chamado “Vagão Rosa”, vagão de embarque exclusivo para mulheres e crianças no metrô. Em Belo Horizonte a comunicação visual do vagão sequer é rosa, ele é cinza.
É nessa encruzilhada que o projeto Nossos Corpos se foca com o objetivo de ampliar os debates sobre a questão do assédio no transporte público e criar subsídios técnicos para auxiliar o desenvolvimento de uma política pública voltada para o combate ao assédio em Belo Horizonte e Região Metropolitana. O projeto foi aprovado na consulta pública Emenda_com_a_genteda Deputada Estadual Andréia de Jesus – PSOL/MG e suas ações estão previstas até maio de 2022.
Em seu escopo, o projeto se baseia:
- Produção de diagnóstico/pesquisa de opinião: produzir estudo quantitativo para suprir a ausência de informações sobre a questão do assédio no transporte coletivo na cidade de Belo Horizonte.
- Produção de diagnóstico/auditoria de segurança de mulheres: produzir estudo qualitativo a partir da realização de 03 auditorias de segurança nas estações Vilarinho, Eldorado e Diamante.
- Comunicação e engajamento: produção de um documentário de curta-metragem com depoimentos de mulheres que se deslocam a pé e de transporte coletivo em BH e RMBH.
A execução do projeto Nossos Corpos pretende consolidar evidências ao produzir um estudo quantitativo e qualitativo para suprir a ausência de informações sobre a questão do assédio no transporte público na cidade de Belo Horizonte e algumas cidades da RMBH. Objetiva-se, também, apresentar o relatório para setores do poder público, como a Prefeitura de Belo Horizonte, BHTRANS, Guarda Municipal, Câmara Municipal de Belo Horizonte, SEDESE-MG e SEINFRA-MG. Este estudo trará números da pesquisa de opinião e procura também propor indicadores que contribuam para levantamento de informações sobre assédio no transporte público. A realização de encontros e auditorias de segurança serão ao mesmo tempo um processo formativo de mulheres atuantes em coletivos da sociedade civil e interessadas no tema e também uma forma de evidenciar espaços inseguros e oportunidades de melhorias na segurança das estações de transporte coletivo.
O maior benefício da execução desse projeto será a possibilidade de estruturar uma visão/gramática/narrativa sobre o tema de violência de gênero e raça no acesso a cidade e no transporte coletivo de Belo Horizonte, apresentar seus resultados para setores públicos (BHTRANS, SEDESE-MG e SEINFRA-MG) e contribuir para a formulação de políticas de segurança preventiva, beneficiando diretamente as mulheres envolvidas no processo de formação/auditoria. Indiretamente, beneficiando todas as mulheres que utilizam o transporte coletivo municipal e metropolitano – que hoje representam uma maioria nos mais de 2 milhões de passageiros/as/es que se deslocam na capital e na RMBH.
Em novembro/21, realizamos virtualmente o lançamento do projeto Nossos Corpos. O debate pautado nas questões sobre violências de gênero no acesso à cidade e assédio no transporte público contou com a participação de Andréia de Jesus, deputada estadual pelo PSOL-MG, Bella Gonçalves, vereadora em Belo Horizonte pelo PSOL-MG, Denise dos Santos, artista visual e cofundadora da produtora RENCA, Juliana Afonso, jornalista e integrante da Tarifa Zero/BH, Juliana Moreira, administradora e integrante do MNBH, Lucilene Alencar, doutoranda em estudos do lazer pela UFMG e integrante da coletiva Terças das Manas e Rafaela Albergaria, mestre em serviço social e escritora. Além de contarmos com a força do poeta Leandro Zerê e Yunni Anumaréh na abertura do evento exibindo e comentando o videopoema “a pressa que me coMOVE”.
Quer acompanhar como foi o lançamento do projeto Nossos Corpos?! Acesse o link o vídeo